HOMENAGEM A JOSÉ FALCÃO PATRONO DA ESCOLA

Hoje estamos aqui para homenagear e assinalar a data de nascimento do nosso Patrono- José Joaquim Pereira Falcão.
Há precisamente 183 anos, Miranda do Corvo assistiu orgulhosamente ao nascimento de uma das figuras mais notáveis do século XIX português. De matemático, físico, a astrónomo, o legado académico e intelectual de José Falcão é singular e deve servir de inspiração, não só para os mirandenses, mas para todos os portugueses em geral.
Ao dedicar-se à vida pública e ao se insurgir contra as desigualdades sociais e políticas, o nosso patrono deu voz aos mais injustiçados do Portugal monárquico do século XIX, marcado por uma nobreza rica que punha e dispunha de tudo à sua mercê.
Numa época em que a República era a exceção, numa europa governada por monarcas, o espírito liberal e vanguardista de José Falcão lutou pela mudança em prol da instauração da República em Portugal. Este novo regime político, não se conceberia simplesmente pela substituição de um rei por um presidente, mas seria o pontapé de saída para uma sociedade que se regia pelo princípio do mérito e não do nascimento, em que coubesse ao povo decidir os seus representantes através do poder do voto. É essa a sociedade, que 183 anos depois, nos acolhe. Mas será que aos dias de hoje temos esta obra terminada?
José Falcão, numa das suas mais conceituadas obras- A cartilha do Povo- dá-nos resposta à pergunta levantada. Logo na página 6, uma das suas personagens, João de Portugal, diz-nos o seguinte:
– “o homem precisa de uma casa para viver. Só os brutos vivem pelas cavernas- Pois para viveres na tua casa tens de pagar o décimo ao Estado. Queres cultivar a tua horta? Has de pagar décima da tua horta. Queres temperar o teu caldo? tens de pagar o sal pelo sobre o seu valor […] o azeite, o vinagre, o vinho, o bacalhau, o café, o assucar, o milho […] são pagos por ti no dobro do seu valor”.
Será que vivemos assim tão distantes do longínquos do século XIX, quando, atualmente os preços das casas atingem valores astronómicos, obrigando os seus demais habitantes a procurarem refúgios “pelas cavernas”? Ou quando a inflação atinge os diversos alimentos que compõe a mesa dos portugueses e que “são pagos por ti no dobro do seu valor”? O que diria a cartilha do povo se fosse escrita em 2024?
Outra objeção, desta vez levantada por José Povinho, na página 11, faz-nos refletir, uma vez mais, sobre a atualidade. Diz-nos ele- “se o povo paga tantos tributos ao Estado, deve o Estado fazer grandes serviços ao povo”.
No entanto, as diversas notícias que nos chegam pelos jornais e televisões contrastam com esta visão ao vivermos a degradação dos serviços públicos e do estado social, sustentado pelo suor do povo.
Numa perspetiva internacional, também há um forte paralelismo entre o tempo de José Falcão e a atualidade. Os mortíferos conflitos bélicos que marcaram o último quartel do século XIX, como a guerra Franco-Prussiana ou os conflitos entre Rússia e Polónia, e até mesmo o imperialismo europeu personificado pela conferência de Berlim, comparam-se aos confrontos de hoje, tanto no médio oriente como no leste europeu. Na sua obra, José Falcão também reflete em torno das atrocidades da guerra que destruíram a família de José Povinho- “eu por minha desgraça já fui soldado” – famílias destruídas, como atualmente, que vêem os seus filhos ficarem para todo o sempre no terreno de batalha.
Infelizmente, José Falcão nunca chegou a ver o nascimento da República, implementada em Portugal no início do século XX.
Por isso, a melhor homenagem que lhe podemos prestar é acarinhar esta preciosa “herança” alinhando-a com a democracia, com os direitos humanos e no respeito mútuo entre todos. A maior arma que a República democrática possibilitou ao povo é o direito ao voto, independentemente da cor, situação financeira, ou nascimento do eleitor, e para que esta cláusula nunca se perca, concluímos com o conselho de José Povinho: – “os deputados são eleitos pelo povo, em que se escolhendo Homens honrados, e que se não vendam, já o caso mundo de figura”. (pág.. 16)
Pelo seu contributo e dedicação, tanto no domínio dos números, como no campo da política, um muito obrigado a José Falcão!

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